Vento no litoral




Assim que meus pés tocaram a areia molhada,a mais estranha das sensações tomou conta de mim. Eu sabia que precisava estar a sós comigo mesma,olhar um pouco pro nada... na verdade,o que eu queria mesmo era fugir da minha vida. Não abandoná-la,mas apenas esquecê-la um pouco.
As pegadas que ficavam na praia,eram mais pra mim que simples passos,eram a minha VIDA,a minha história. Subi em um pedra,abri os braços e me entreguei ao vento. Gritei,como se alguém fosse me ouvir. Chorei,como se alguém estivesse ali para enxugar minhas lágrimas. Mas não havia ninguém além de mim,e de todos os meus medos e angústias desaparecendo.
As lembranças mais ocultas começaram a brotar como flores na primavera,as mais dolorosas e as mais aconchegantes . Os abraços esquecidos,os carinhos que já não mais importavam,os olhares que tinham se perdido no tempo... tudo isso vinha á tona com uma intensidade descomunal.
As ondas batiam na pedra,o vento batia nos meus cabelos. O que estava acontecendo dentro de mim era mais do que simples saudade,era uma mistura de sentimentos que pareciam intermináveis.
Andando pela praia,o sol de fim de tarde parecia me iluminar como uma luminária sobre uma mesa. As árvores pareciam ter ensaiado cada movimento,e o céu... com aquele laranjado exuberante que proporcionava a quem via o maior e mais magnífico espetáculo já protagonizado.Os meus olhos molhados começaram a secar,e em minha mente a mais doce de todas as melodias tocava pra mim,apenas pra mim. O céu começava a escurecer,o sol dava lugar á lua e ao seu vento frio. Caminhar para casa me pareceu uma boa opção.
Eu ainda podia sentir as ondas sobre os meus pés,eu ainda podia sentir o vento daquela tarde. Mas já havia acabado. Abri a porta de casa com uma leveza que eu nunca antes havia sentido. Dei o primeiro passo a dentro com força,levantei a cabeça e recebi o melhor de todos os presentes : o olhar e o sorriso do meu melhor amigo.

Liberdade .


Um dia sem alma,um dia sem cor. Onde tudo e todos pareciam estar sem vida. A sensação que eu tinha era que  o céu estava ameaçando desabar sobre mim,e que a qualquer momento,ele podia fazê-lo. Sentei na cama e olhei o espelho,a imagem que ele refletia não era a que eu queria ver . Triste ? não,apenas sem graça.
O sol parecia não gostar do que via,e se escondia cada vez mais. Nuvens cobertas de escuridão pairavam sobre as cabeças de todos que arriscavam sair. Poderia piorar ? há quem diga que não.
Eu olhava pela janela em busca de qualquer coisa que tivesse vida lá fora - não a vida comum,que todos temos,mas a vida que gera vida,aquela que enche de luz tudo que a rodeia - e não achava. Foi então que o sol se ofuscou,parecia noite,mas dentro de mim,ainda existia uma chama,um grito que precisa sair,ou um simples suspiro guardado.
O barulho dos trovões lá fora assustavam qualquer um que tivesse audição,e eu continuava ali,calada e incolor. A chuva cai como se estivesse executando o mais lindo de todos os ballets,e ela me convidava pra dançar . Um convite assim,quem poderia resistir ?
A liberdade dentro de mim criava asas,eu sentia naquele momento que poderia voar,mesmo que por um instante. Eu estava completamente encharcada,abraçando a chuva e deixando que junto com ela fosse levadas de mim todo aquele cinza,aquela escuridão.

Eu sorria,mesmo que involuntariamente.Corria em direção á alguma coisa que nem mesmo eu sabia o que,mas corria. Me joguei na grama,enquanto os últimos pingos de chuva caíam sobre a minha cabeça. O Sol,agora com todo seu esplendor,parecia voltar com vontade,parecia querer iluminar a aquela terra incolor,mas que agora esbanjava cor,que tinha um brilho nunca antes visto,mas que sempre esteve ali,só precisava ser descoberto .

O Desconhecido e oculto.







Hoje,de qualquer maneira,eu precisava me lembrar de quem eu era. Mas de que forma ? olhando fotografias ? mexendo em papéis? não. Decidi eu mesma vasculhar minhas memórias atrás de algo que pudesse me mostrar o que me levou a ser quem eu sou. 
Abrir o jardim ? talvez . Entrar novamente em uma parte da minha mente que eu mesma tinha medo de revirar,seria um grande desafio. Abri o jardim,olhei em volta... rostos,lágrimas e sorrisos - que eu já não conhecia -  me cercavam. Era difícil  pra mim encarar quem eu fui,mas tive que fazer isso. Há coisas em mim que só poderiam ser compreendidas se eu soubesse de onde surgiram. 
Continuei andando,seguindo rumo a mim mesma. Quando dei por mim,começei a perceber o quanto eu havia mudado. Eu já não era mais tão incompreensiva,nem tão indiferente - frieza sempre foi uma das minhas maiores características - como sempre fui. Melhor ? eu não sei. Uns dizem que sim,outros preferem não opinar. 
Mas bem,voltando ao meu passeio por um dos meus jardins trancados...  Senti uma brisa fria,e o uivo do vento entre as paredes do jardim . Senti medo,confesso. Mas a vezes é preciso encarar nossos medos para que se possa seguir adiante . Decidi continuar andando e achei uma porta. Eu teria coragem o suficiente para entrar ali,no desconhecido ? Quem sabe em uma outra oportunidade.
Dei meia volta,voltei ao começo,tranquei o jardim mais uma vez e voltei a ser quem eu sou. 
Entrar e abrir aquela porta ? num dia menos frio,seria bem provável.

A sétima chave .



Como esse é o primeiro post,me sinto na obrigação de explicar como este blog nasceu . "O Jardim Secreto" ou "a Sétima Chave". Coloquei esse nome no blog porque aqui é literalmente a sétima chave .Onde estarão escondidos os meus mais profundos suspiros,as mais loucas idéias e todos os meus passos infalsos.  Quem nunca ouviu alguém dizer: "isto está guardado às sete chaves " ?,e é aqui que você vai encontrar a minha. Um jardim secreto,onde os meus pensamentos ganham vida e os meus mais ocultos devaneios são revelados.
No começo,pensei em escrever apenas sobre minhas tristezas . Mas,não.  Quero que a pessoa retratada aqui seja nada mais do que alguém comum . Que ama,que chora,que sorri e odeia. Bem vindos ao meu esconderijo,ao meu mundo,ao meu jardim secreto.


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